CEMITÉRIOS NO BRASIL

HISTÓRIA DOS CEMITÉRIOS NO BRASIL

No século XIX eram muitos os problemas graves e urgentes enfrentados pelas cidades. O aspecto sanitário era um deles, como a precariedade dos hospitais, a não existência de cemitérios, os enterros, as prisões, etc.
Naquele tempo era costume se enterrar os mortos nas igrejas. Mas isso apresentava graves inconvenientes sanitários, sobretudo nas cidades onde a população crescia e assim diminuía a oferta disponível de sepulturas.
Nas igrejas, nos conventos e nas capelas particulares, sepultavam-se os mortos da nobreza rural e da burguesia urbana. Não se usava caixões e o defunto era envolto numa mortalha e conduzido em uma padiola. Havia dois horários para os enterros, pela manhã e à tarde, e durante esses horários diariamente as igrejas tocavam os sinos com o dobre continuado e monótono de finados, o que provocava mal estar e reclamação da população,
Também no século passado, os recifences adotavam extenso e espalhafatoso cerimonial nos sepultamentos. Era costume enterros à noite, unicamente porque esse horário possibilitava uma encenação bem mais dramática do que seria possível de dia. O objetivo maior desse ritual era chamar atenção dos vivos para a riqueza do morto. Quanto mais rico o defunto, mais aparato e fausto. O enterro era feito em forma de procissão, tudo em meio a tochas e archotes acessos e os acompanhantes faziam recitações em voz alta. Nunca se via um enterro de dia, porque a noite permitia uma grande ostentação.
Mas essa ostentação não tinha nada a ver com os aspectos sanitários dos enterros, pois os mortos eram colocados em catacumbas dentro das igrejas, as quais na maioria das vezes só era fechada dias depois. Não havia também,prazo determinado para se ficar com o defunto em casa e assim era comum que os mortos exalassem muito mau cheiro. As vezes os defuntos chegavam a tal estado de decomposição que dos corpos "dos cadáveres escorriam líquidos corrompidos que vão caindo por todo o caminho".
Apesar dos grandes males sanitários que os sepultamentos nas igrejas provocavam , o preconceito para enterrar mortos em cemitérios construídos só para tal fim, era muito grande, tanto entre a população como entre os religiosos.
As paredes das sepulturas das igrejas não apresentavam dimensões adequadas à vedação completa das catacumbas, o que deixava passar sempre o mau cheiro e as pessoas não podiam ficar muito tempo nos templos. As irmandades religiosas eram apontadas como as principais causadoras desse mal e os vizinhos das igrejas eram os que mais sofriam.
Se fosse em época de alguma epidemia, quando o número de mortos era maior, sepultava-se um ou dois corpos na mesma catacumba ou retiravam-se os corpos antes que passasse o tempo necessário para decomposição do cadáver.
As catacumbas deixavam passar assim um mau cheiro infecto "que pode influir bastante sobre a saúde pública, além do que nem sempre são fechados logo... e os cadáveres passam toda a noite expostos ao ar, já estando em um ponto elevadíssimo de putrefação e mais ainda... depois de abertas para receberem outros cadáveres", reclamava o médico Joaquim de Aquino Fonseca.
O mau cheiro era tão terrível que as vezes famílias que iam muito cedo a missa, não podiam nem entrar na igreja!
O defunto era conduzido no caixão envolto em uma mortalha e transferido 'sem caixão' diretamente para a sepultura. A população usava caixões alugados que serviam a enormes quantidades de corpos e "nem mesmo quem o vai buscar lembra-se que pode trazer para sua casa um germem destruidor, porque pode muito ter ele servido a algum indivíduo morto de afecção contagiosa e daí, desenvolver-se a mesma infecção nos indivíduos da família. Esses caixões de aluguel, são forrados de panos, neles passam corpos muitas horas em estado avançado de corrupção, de sorte que é impossível que todos esses panos não se achem impregnados dos líquidos corruptos provenientes dos cadáveres... ninguém indaga se o caixão que aluga serviu na véspera, a algum morto de varíola ou de qualquer epidemia".
As próprias irmandades religiosas é que se encarregavam do aluguel dos caixões. Havia muitas delas, de brancos, de negros, de mulatos e pardos.
As sepulturas, além do mais, estragavam muito as igrejas, sobretudo em tempos de surtos epidêmicos, quando se acendiam fogueiras dentro delas. Destruíam os pisos, os retábulos, as talhas de madeira, as pinturas dos tetos e as imagens.
A questão do mau cheiro, além do incômodo que causava, era, levada muito mais a sério, era uma questão comprometedora e assustadora, pois até o século XIX a própria medicina considerava que a principal fonte de contágio de doenças ocorria através do ar, o qual disseminava as emanações provenientes do solo e da água por toda parte. Essas emanações, esses cheiros, eram chamados de miasmas, era a teoria da origem miasmática das doenças epidêmicas, que era universalmente reconhecida e aceita por todos os médicos. O ar era assim, o principal propagador das doenças. O mau cheiro era assim, uma terrível ameaça.
A construção de cemitérios públicos no século XIX era inovação urbana recente. Consequência do surgimento da cidade industrial, que acelerou a urbanização de forma descontrolada. Repentinamente os gestores da higiene e da salubridade públicas tiveram que medicalizar as cidades e promover a remodelação do espaço urbano.
Vale a pena lembrar que a palavra cemitério, em sua origem latina, designava a parte exterior da igreja, isto é, o adro ou atrium, que é a área externa na frente da igreja. Primitivamente, o próprio conceito de igreja era também muito mais abrangente e igreja significava não só seu interior mas, todos os espaços ao redor. Pouco a pouco esse conceito de igreja-cemitério como coisa única, foi se modificando e na segunda metade do século XIX esses dois conceitos já significavam construções diferentes.
O surgimento dos cemitérios foi consequência direta da insalubridade das cidades: "a individualização do cadáver, do caixão e do túmulo aparece no final do século XIII, não por razões religiosas de respeito ao cadáver, mas por razões político sanitárias de respeito aos vivos. Para que os vivos estejam ao abrigo da influência nefasta dos mortos... Não era uma idéia cristã, mas médica, política".
Mesmo depois de construídos cemitérios, havia ainda um problema de preconceito e discriminação com que não era católico. Nas igrejas só eram sepultados os católicos.
Quando em 1802 faleceu no Recife o inglês Daniel Savage, enterraram-no, por ordem do presidente da província, no fosso da Fortaleza do Brum.
Mesmo depois da assinatura do tratado de Abertura dos Portos em 1808 não havia lugares "decentes" para se enterrar estrangeiros e só em 1811 foram determinados terrenos para servir de cemitério aos estrangeiros no Rio de Janeiro e na Bahia. Em Pernambuco, o terreno para um Cemitério dos Ingleses foi escolhido em 1814, pelo presidente da província, no lugar chamado Santo Amaro. Assim é que, este Cemitério, construído para servir de cemitério, foi o primeiro do Recife.
Só na década de 1850 é que se construiu um cemitério público para os pernambucanos. Há algumas dúvidas quanto a autoria do projeto dele. Se é do engenheiro francês Louis Léger Vauthier ou do engenheiro pernambucano José Mamede Alves Ferreira. Em 1851 iniciam-se as obras para construí-lo, e sua inauguração ocorre no dia 1º de março. Foi chamado de cemitério do Senhor Bom Jesus da Redenção de Santo Amaro.
Alguns historiadores de arte referem que este campo santo ,com seu paisagismo geometrizado, com linhas radiais e sessões poligonais, têm uma concepção que garantiu o predomínio da paisagem sobre o túmulo.
Este cemitério pernambucano foi o 1º de todo Império, e comparava-se aos melhores da Europa. Com o passar do tempo, o Campo Santo de Santo Amaro transforma-se até em lugar de encontros chiques das dondocas recifenses.
Mas não foi fácil a população aceitar o cemitério. A epidemia de febre amarela que se iniciou em 1849 e estendeu-se por alguns provocou o uso sistemático do mesmo. Depois, em 1856, com a epidemia do Cólera Morbus, que chegou a matar mais de 100 pessoas por dia, no Recife o cemitério foi definitivamente incorporado à vida dos pernambucanos.
Fonte: www.ars.com.br/projetos/ibrasil/1999


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